sábado, 25 de junho de 2011

CHÃO DE GIZ: TEOREMAS

A análise que se segue é apenas uma tentativa, não é um tratado. Porque é impossível ouvir Chão de Giz de Zé Ramalho e não ficar pensando numa teoria pra letra da música, simples e agradável exercício mental. O autor discrimina uma realidade de migração, em meio à fuga de sentidos, em que a migração é dada pela falta de perspectivas do homem maduro diante de suas realidades. O fracasso e a decepção que acompanham a personagem em sua constante “retirada” surgem ao longo do texto, proporcionando nossa observação na medida em que observamos elementos como a inutilidade e a velhice da sua caminhada.

O personagem é o retirante, que está sempre fugindo do lugar que ele não reconhece como seu, mas que o empurra sempre, a permanecer nesse contexto de uma realidade paralela. Seus companheiros nessa viagem são sempre os mesmos, os fracassados, que ele encontra pelo caminho e são como ele, perdedores na luta da vida, são os nocauteados pelo sistema: mal-amados, velhos, pobres e fracos. Da mesma maneira que o personagem que se exprime como uma prostituta ou garoto de programa, da mesma maneira cansados e desiludidos com a (des)continuidade de sua jornada perdida.

A tríade de condicionantes que a viagem do personagem denota são o desejo, a necessidade e a vontade, todos os três reprimidos e continuamente negados ao mesmo tempo em que vigoram pelo conjunto do enredo. A memória do que foi vivido e desperdiçado provoca um questionamento sobre o tempo perdido, à falta de solução só resta a fuga, a alienação, em que o conceito de carnavalização pode ser utilizado por demonstrar que é sempre a alternativa mais usada, por ser a última que sobra àqueles que não conseguem adaptar-se e fazer parte do sistema, a fantasia nada mais é que uma maneira de não olhar para aquilo que fere, tornando-o enviesado pela profusão de cores que sobrepôem-se.

A letra de Zé Ramalho exprime a fuga e o refúgio do inconsciente, que procura desviar-se de seu destino, ao mesmo tempo em que acredita ser impossível essa manobra, provocando uma dobra na interpretação que se faz de seu sentido literário, dobra que se repete na medida em que se configura uma leitura progressiva de seus sentidos.

Um comentário:

  1. Tive o privilégio de ouvir "Chão de Giz" dia 21, bem de perto! Bela reflexão...

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