segunda-feira, 13 de junho de 2011

ALÉM DA VELHICE

Ao acabar de assistir o último filme de Clint Eastwood, o sentimento que me tomou foi de um grande orgulho, orgulho pelo seu idealizador, o septuagenário diretor que continua filmando mas com uma diferença marcante com relação a muitos outros artistas de nosso tempo, Eastwood não quer continuar sendo o mocinho de seus filmes e muito menos quer passar a mensagem de que o bem e o mal vivem em uma constante disputa. Além da Vida, (Hereafter, 2010) estabelece uma visão sobre a capacidade que nós temos de nos distanciarmos das outras pessoas, seja pelo que elas possuem de repugnante, do ponto de vista moral e ético, seja o que nós temos de diferente dos conceitos dos outros. Ao construir uma narrativa que relata três histórias diferentes que se encontram para se consolidarem, o diretor desenvolve uma análise complexa do que é viver em tempos difíceis como estes. As vertentes são desevolvidas da seguinte maneira: O pós-fama de um indivíduo que possui a capacidade de contatar os mortos a partir do contato físico com quem conviveu com um deles. Uma famosa jornalista que vê-se diante de um dilema após ser vítima de um tsunami. Uma criança gêmea que se vê interligado de forma equivocada ao seu irmão. Cada uma das narrativas ocorre num ponto diferente da terra, pois a distância geográfica tende a diminuir com o avanço da tecnologia, ao mesmo tempo em que a distância emocional e afetiva só aumenta., criando assim um paradoxo que resume muito bem nossas vidas: podemos nos comunicar com pessoas nos quatro cantos do planeta, mas não queremos as vezes conversar com um vizinho por dez minutos. A distância então é o mote que conduz o espectador pelo enredo do filme, fazendo com que as distâncias entre os personagens sigam diminuindo até o momento em que desaparecem para formar uma nova paisagem sentimental, na qual cada um terá um papel de protagonista em sua vida, já que até então eram apenas coadjuvantes de suas próprias existências.
Desse modo, o velho diretor nos conduz a uma compreensão de que não é feio se comportar como alguém adulto diante das bobagens da vida, só porque muitas pessoas acreditam que o mito de Peter Pan relamente existe não sou obrigado a achar bonito alguém que já passou da idade querendo ser jovem, tanto no comportamento como nas ações, fazendo com que adultos e crianças pareçam ridículos pelo que possuem de anacrônico( porque não dizer antagônico?) em suas atitudes diárias. O que Clint Eastwood fez desde o início de sua carreira foram filmes com uma temática baseada na violência e na masculinidade do homem diante de sua epopéia de conquistas e desafios, quase sempre vinculados a simbologia do Western que o criou e o consagrou. De algum tempo pra cá o que passou a constituir seu cinema, não por acaso na medida em que o diretor envelhecia, foram as possibilidades de avaliação pessoal e interpessoal que não usam rifles e revólveres, mas sim palavras e gestos. À medida em que o diretor vai envelhecendo o homem rude e que decide tudo com a força vai dando lugar a personagens sensíveis a questionamentos sobre amizade, amor, vida e, principalmente, morte. pois ao indivíduo que tem plena consciência de si e de sua progrssiva degeneração, nada é mais natural. Que outros possam saber envelhecer como você Clint.

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