sábado, 28 de janeiro de 2012

O AMOR E OUTRAS NEURAS


O filme Casablanca traz uma relação acerca das consequências de uma decisão e como ela persegue o protagonista, criando o clima para um enredo extremamente marcante que cria e recria o mito do indivíduo que se torna herói mesmo não querendo e isso o empurra para longe daquilo que mais quer.O herói de Bogart é durão, mas sentimental demais quando o assunto é a personagem de Ingrid Bergman, que resurge de repente em sua vida e expõe vários esqueletos que ele preferia esconder na parede da memória. Assim fica definido o tema principal da história, o amor que une os homens mas separa os casais, principalmente os protagonistas, criando um jogo de espelhos entre os personagens que acaba por reduzi-los a reflexos de um tempo em que sabiam que eram felizes ao mesmo tempo qe tinham certeza que não duraria para sempre o que quer que sentissem. Fica assim definido quando na cena final ele a entrega nos braços de outro, em nome de um amor que ele sabe que existiu apenas em um determinado momento. Dentro de um contexto que mistura II Guerra Mundial, traição amorosa e a perseguição nazista, é um filme que se assiste e não esqueçe nunca.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A FALHA NOSSA DE CADA DIA

Ao pensarmos que nosso trabalho é importante, que estamos ajudando os outros a superarem seus problemas e situações difíceis no processo de aprendizagem que se constitui a atividade de qualquer ser humano que viva em sociedade está cometendo um erro. Tal erro se configura na única pergunta que não nos fazemos: este trabalho é importante pra mim? Isso pode ser explicado e explicitado nas várias vezes em que você enquanto indivíduo é ferido em sua essência, seja por uma situação constrangedora à qual você foi jogado por interesses que existem em qualquer atividade laboral no mundo, e não são poucos: necessidade de se dar bem acima de tudo e de todos, preguiça, falta de caráter, antipatia e apatia. Ou seja, todos os elementos humanos que compõem o ambiente de trabalho onde quer que haja mais de duas pessoas desempenhando atividades interdependentes.

A educação não poderia ser diferente, pois tanto existe para sanar todos os problemas da sociedade na visão de muitos, como para ocupar o tempo dos filhos barulhentos e mal criados na visão de outros tantos. No ambiente educacional de uma escola deveria ser regra a construção de um modelo de convivência que os estudantes observassem a possibilidade de usá-lo como instrumento de sociabilidade em sua própria vida. Mas infelizmente não é o que acontece, remetendo a pergunta do primeiro parágrafo, é importante pra mim ser humilhado por não ser um dos queridinhos? Por não fazer parte do jogo de interesses? Serei eu mesmo a entrar em uma sala de aula, terei a mesma vontade e pertinência que saí de casa quando, em meu ambiente de trabalho sou exposto a um processo de desagregação de mim mesmo?

Vivemos em um mundo de relações, isso é um fato, e como tal é inquestionável. Mas será mesmo necessário que eu me esvazie de minha alma para que possa desempenhar uma função de forma ordenada? Será que me cabe apenas respostas binárias? Em sala de aula tenho toda a responsabilidade e dever de passar o conteúdo e resolver os problemas intra e extraclasse dos alunos, mas na hora em que sou exposto aos meus superiores só me resta dizer sim ou não? Não posso argumentar, expor meus pontos, mesmo que seja contrário ao meu interlocutor? Pois cada vez que, como profissional me exponho a uma situação destas me vejo cada vez mais empobrecido diante da minha falta de perspectiva e cada vez mais desiludido não posso ser um bom profissional.

Lidando com vidas, preciso ser cuidadoso ao formá-las, mesmo que seja seu caráter, pois não é essa a mais importante parte de um ser humano? Como posso torná-los conscientes de seu papel no mundo se na realidade o meu é desconhecido de mim próprio? Não posso gritá-los ou dar as costas cada vez que suas opiniões não me agradem, pois assim não estaria formando líderes, mas sim chefes. Um chefe manda e seus subordinados obedecem, um líder faz seus comandados entenderem o porquê de desempenhar tal tarefa, para que ela possa ser feita da melhor maneira, com consciência.

Desse modo, acreditamos que existe um caminho, uma via que leva a uma formação profissional contínua e consistente, que torna cada profissional melhor pelo que ele possui de qualidades na relação com os demais. No interior do nordeste brasileiro há um ditado que diz: “quanto mais cabras, mais cabritos”. Que em linhas gerais significa que o conjunto de opiniões leva a uma maior capacidade de resolver problemas e diminuir diferenças entre os vários segmentos de um ambiente profissional. Ao mesmo tempo em que você enquanto profissional se sente bem em trabalhar em determinado lugar, você se sente responsável pelo crescimento deste mesmo local enxergando possibilidades e variáveis que alguém sozinho é incapaz de encontrar. Pois para cada falha observada no outro, temos dez a nos comprometer. Sendo assim, é impossível não errar, é do homem aprender com seus erros, mas pelo menos o trabalho em equipe diminui os efeitos da falha que se considera tarefa árdua de indivíduo sozinho para se tonar um meio e um modo de compreensão dos problemas que afetam todo o conjunto.

Então, podemos após fazer a pergunta do primeiro parágrafo, unir forças e diminuir diferenças eliminando os erros coletivos e contínuos ou abaixar a cabeça e continuar enxergando o erro como uma falha nossa de cada dia, que mesmo não querendo vamos transferi-las para aquele que menos precisa dela, o garoto que veio assistir a nossa aula. Independente se os pais dele ainda vivem juntos ou se os outros garotos o chamam de gordo e feio, pois cada cabeça é um mundo, muitas vezes o único e solitário que tais indivíduos conhecem.

A CONCEPÇÃO DE AMOR

Existem muitas formas de amor e apenas o contínuo movimento da vida e das pessoas que cruzam nosso caminho nessa progressão de encontros e desencontros que é nossa existência são capazes de justificar. Dentre todas essas pessoas, existe uma que faz com que o dia-a-dia de todos que cruzem seu caminho seja bonito e edificante. Dizer seu nome agora estragaria a surpresa dela mesma descobrir que o que pensam dela é muito mais daquilo que a própria imagina. Por isso, tenha calma, deixe que possamos elogiá-la mais um pouco.

Dentro das relações de trabalho surgem problemas que se não resolvidos de imediato e com a mediação de alguém que sabe o que está fazendo, podem se tornar sérios desentendimentos entre aqueles que deveriam trabalhar juntos. Assim surge a necessidade de alguém com experiência, mas que os anos de trabalho e as agruras da vida não estragaram, tanto na percepção quanto na sensibilidade no trato com as pessoas. Sua função é fundamental para que todos os outros que estão a sua volta possam trabalhar de forma coerente e produtiva. Mesmo porque a energia negativa do “lado negro da força” não tem efeito sobre sua imensa bondade.

Deve ser por esse motivo que seu nome deriva do momento mais sublime da vida, o da concepção, a criação original e insubstituível de uma vida. Pois se não somos criados e recriados a cada conversa, a cada desabafo, a cada vez que nos encontramos diante da doçura e fino trato de suas palavras, gestos e ações? Dia oito de dezembro, segundo a teoria cristã, é o dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição, que por corruptela do português arcaico e da oralidade deixou de ser concepção para se tornar conceição. Por isso nossa amiga, gostaríamos de lhe desejar um feliz aniversário e que a felicidade que você distribui no seu cotidiano possa ser lhe retribuída em dobro, por todos aqueles que fazem parte da “sua equipe pedagógica” e que nenhum governador, diretor ou dired da vida pode impedir que assim continue. Você, Ceição Bessa, vai nos acompanhar por toda a nossa vida em cada vez que pensarmos a pedagogia como um modo de melhorar a educação e a vida das pessoas, e não atrapalhá-la.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

NA TRINCHEIRA

À frente: um campo vasto - terra de ninguém -
porque a todos pertençe;
Às costas: o que passou - e não pode ser mudado -
dores, perdas e lembranças;
Dentro da trincheira: resistência, apenas isso.
O inimigo ruge, qual os raivosamente cinco mil,
que silenciaram Canudos.
Combato, luto, nem sempre o bom combate.
Mas, ao ver meus camaradas,
me empertigo, engatilho o rifle - de minha caneta - e continuo.
Pois a hipocrisia, o medo e a insensibilidade
são coronéis de muitos jagunços.
O lema, retroceder nunca e render-se jamais
é dito pelos que já morreram,
em suas lembranças vivas.
Que nos fazem engolir o choro
e continuar atirando - palavras -
Meus inimigos não desistem nunca.
Meus amigos também não.

sábado, 25 de junho de 2011

A FESTA ACABOU

Não adianta, a festa acabou

Não tem mais graça

Aquelas velhas piadas sobre mulheres e os amigos chatos

Têm um riso amarelo agora

Pois são os chatos que estão com as melhores, lá fora

E nós estamos ficando pra trás

Não, não insista, faz tempo que a última dose já veio

Fomos nós que nos enganamos

Acreditando que não acabava

Mas acabou

Todos os outros já foram

Só nós é que ficamos repetindo tudo

Vamos embora, a vida nos espera

É hora de crescermos, enxergar que lá fora

A vida continua

Diferente daqui de dentro

Onde tudo é do mesmo jeito

Todos os carros já foram

Só nos resta ir a pé

O melhor já passou, foi tolice ter ficado

Não nos trouxe de volta o momento de graça e alegria

Esses momentos duram pouco, é inútil querer estendê-los

É só no início da festa que acontecem

Vamos embora

De cabeça baixa mesmo, porque a vida é séria

CHÃO DE GIZ: TEOREMAS

A análise que se segue é apenas uma tentativa, não é um tratado. Porque é impossível ouvir Chão de Giz de Zé Ramalho e não ficar pensando numa teoria pra letra da música, simples e agradável exercício mental. O autor discrimina uma realidade de migração, em meio à fuga de sentidos, em que a migração é dada pela falta de perspectivas do homem maduro diante de suas realidades. O fracasso e a decepção que acompanham a personagem em sua constante “retirada” surgem ao longo do texto, proporcionando nossa observação na medida em que observamos elementos como a inutilidade e a velhice da sua caminhada.

O personagem é o retirante, que está sempre fugindo do lugar que ele não reconhece como seu, mas que o empurra sempre, a permanecer nesse contexto de uma realidade paralela. Seus companheiros nessa viagem são sempre os mesmos, os fracassados, que ele encontra pelo caminho e são como ele, perdedores na luta da vida, são os nocauteados pelo sistema: mal-amados, velhos, pobres e fracos. Da mesma maneira que o personagem que se exprime como uma prostituta ou garoto de programa, da mesma maneira cansados e desiludidos com a (des)continuidade de sua jornada perdida.

A tríade de condicionantes que a viagem do personagem denota são o desejo, a necessidade e a vontade, todos os três reprimidos e continuamente negados ao mesmo tempo em que vigoram pelo conjunto do enredo. A memória do que foi vivido e desperdiçado provoca um questionamento sobre o tempo perdido, à falta de solução só resta a fuga, a alienação, em que o conceito de carnavalização pode ser utilizado por demonstrar que é sempre a alternativa mais usada, por ser a última que sobra àqueles que não conseguem adaptar-se e fazer parte do sistema, a fantasia nada mais é que uma maneira de não olhar para aquilo que fere, tornando-o enviesado pela profusão de cores que sobrepôem-se.

A letra de Zé Ramalho exprime a fuga e o refúgio do inconsciente, que procura desviar-se de seu destino, ao mesmo tempo em que acredita ser impossível essa manobra, provocando uma dobra na interpretação que se faz de seu sentido literário, dobra que se repete na medida em que se configura uma leitura progressiva de seus sentidos.