sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A FALHA NOSSA DE CADA DIA

Ao pensarmos que nosso trabalho é importante, que estamos ajudando os outros a superarem seus problemas e situações difíceis no processo de aprendizagem que se constitui a atividade de qualquer ser humano que viva em sociedade está cometendo um erro. Tal erro se configura na única pergunta que não nos fazemos: este trabalho é importante pra mim? Isso pode ser explicado e explicitado nas várias vezes em que você enquanto indivíduo é ferido em sua essência, seja por uma situação constrangedora à qual você foi jogado por interesses que existem em qualquer atividade laboral no mundo, e não são poucos: necessidade de se dar bem acima de tudo e de todos, preguiça, falta de caráter, antipatia e apatia. Ou seja, todos os elementos humanos que compõem o ambiente de trabalho onde quer que haja mais de duas pessoas desempenhando atividades interdependentes.

A educação não poderia ser diferente, pois tanto existe para sanar todos os problemas da sociedade na visão de muitos, como para ocupar o tempo dos filhos barulhentos e mal criados na visão de outros tantos. No ambiente educacional de uma escola deveria ser regra a construção de um modelo de convivência que os estudantes observassem a possibilidade de usá-lo como instrumento de sociabilidade em sua própria vida. Mas infelizmente não é o que acontece, remetendo a pergunta do primeiro parágrafo, é importante pra mim ser humilhado por não ser um dos queridinhos? Por não fazer parte do jogo de interesses? Serei eu mesmo a entrar em uma sala de aula, terei a mesma vontade e pertinência que saí de casa quando, em meu ambiente de trabalho sou exposto a um processo de desagregação de mim mesmo?

Vivemos em um mundo de relações, isso é um fato, e como tal é inquestionável. Mas será mesmo necessário que eu me esvazie de minha alma para que possa desempenhar uma função de forma ordenada? Será que me cabe apenas respostas binárias? Em sala de aula tenho toda a responsabilidade e dever de passar o conteúdo e resolver os problemas intra e extraclasse dos alunos, mas na hora em que sou exposto aos meus superiores só me resta dizer sim ou não? Não posso argumentar, expor meus pontos, mesmo que seja contrário ao meu interlocutor? Pois cada vez que, como profissional me exponho a uma situação destas me vejo cada vez mais empobrecido diante da minha falta de perspectiva e cada vez mais desiludido não posso ser um bom profissional.

Lidando com vidas, preciso ser cuidadoso ao formá-las, mesmo que seja seu caráter, pois não é essa a mais importante parte de um ser humano? Como posso torná-los conscientes de seu papel no mundo se na realidade o meu é desconhecido de mim próprio? Não posso gritá-los ou dar as costas cada vez que suas opiniões não me agradem, pois assim não estaria formando líderes, mas sim chefes. Um chefe manda e seus subordinados obedecem, um líder faz seus comandados entenderem o porquê de desempenhar tal tarefa, para que ela possa ser feita da melhor maneira, com consciência.

Desse modo, acreditamos que existe um caminho, uma via que leva a uma formação profissional contínua e consistente, que torna cada profissional melhor pelo que ele possui de qualidades na relação com os demais. No interior do nordeste brasileiro há um ditado que diz: “quanto mais cabras, mais cabritos”. Que em linhas gerais significa que o conjunto de opiniões leva a uma maior capacidade de resolver problemas e diminuir diferenças entre os vários segmentos de um ambiente profissional. Ao mesmo tempo em que você enquanto profissional se sente bem em trabalhar em determinado lugar, você se sente responsável pelo crescimento deste mesmo local enxergando possibilidades e variáveis que alguém sozinho é incapaz de encontrar. Pois para cada falha observada no outro, temos dez a nos comprometer. Sendo assim, é impossível não errar, é do homem aprender com seus erros, mas pelo menos o trabalho em equipe diminui os efeitos da falha que se considera tarefa árdua de indivíduo sozinho para se tonar um meio e um modo de compreensão dos problemas que afetam todo o conjunto.

Então, podemos após fazer a pergunta do primeiro parágrafo, unir forças e diminuir diferenças eliminando os erros coletivos e contínuos ou abaixar a cabeça e continuar enxergando o erro como uma falha nossa de cada dia, que mesmo não querendo vamos transferi-las para aquele que menos precisa dela, o garoto que veio assistir a nossa aula. Independente se os pais dele ainda vivem juntos ou se os outros garotos o chamam de gordo e feio, pois cada cabeça é um mundo, muitas vezes o único e solitário que tais indivíduos conhecem.

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